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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Hanna Arendt, Liberdade e perdão

“O amor à sabedoria e o amor à bondade, que se resolvem nas atividades de filosofar e de praticar boas ações, têm em comum o fato de que cessam imeditamente – cancelam-se, por assim dizer – sempre que se presume que o homem pode ser sábio ou ser bom.”

Hannah Arendt, nasceu em 14 de outubro de 1906 foi uma ativista política alemã e judia, uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e perseguição na Alemanha de pessoas de origem judaica a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na emigrar. O regime nazista retirou a nacionalidade dela em 1937, o que lhe tornou apátrida. Jornalista e professora universitária publicou obras importantes sobre política. Arendt defendia um conceito de "pluralismo" no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas. Em acordos políticos, convênios e leis, devem trabalhar em níveis práticos pessoas adequadas e dispostas. Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa. Graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo, seus trabalhos sobre filosofia existencialista e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos.
Nos círculos intelectuais de Königsberg nos quais se criou, a educação das meninas era algo que certamente ocorria. Através de seus avós, conheceu o judaísmo reformado porem sempre professou sua fé em Deus de forma livre e não-convencional. Não pertencia a nenhuma comunidade religiosa, mas sempre se considerou judia, inclusive participando do movimento sionista.
Aos 17 anos teve de abandonar a escola por problemas disciplinares, indo então sozinha a Berlim, onde, sem haver concluído sua formação, teve aulas de teologia cristã e estudou pela primeira vez a obra de Søren Kierkegaard. De volta a Königsberg em 1924, foi aprovada no exame de maturidade.
Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich - o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha e passou por Praga e Genebra antes de se mudar para Paris, onde trabalhou pelos 6 anos seguintes com crianças judias expatriadas. Foi presa (uma segunda vez) na França conjuntamente com o marido, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.
O trabalho de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher.


O primeiro livro "As origens do totalitarismo" (1951) consolida o seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polémica o nazismo e o comunismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas.
Sete anos depois publica "A condição humana", obra onde enfatiza a importância da política como ação e como processo, dirigida à conquista da liberdade:
Com a expressão 'vita activa', pretendo designar três actividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. (...) O labor é a actividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor é a própria vida. O trabalho é a actividade correspondente ao artificialismo da existência humana (...). O trabalho produz um mundo "artificial" de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. A condição humana do trabalho é a mundanidade. A acção, única actividade que se exerce directamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao facto de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente 'a' condição (...) de toda a vida política. 
Publica depois "Sobre a Revolução" (1963), talvez o seu maior tributo para o pensamento libertário contemporâneo, e examina a revolução francesa e a revolução americana, mostrando o que têm de comum e de diferente.
Ainda, em 1963, escreveria "Eichmann em Jerusalém" a partir da cobertura jornalística que faria do julgamento do exterminador dos judeus e arquitecto da Solução Final para a The New Yorker. Nesse livro impressionante revela que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade (como o criam os activistas judeus) mas alguëm terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição. Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica virulenta das organizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontara, apenas, para a complexidade da natureza humana, para uma certa "Banalidade do Mal" que surge quando se compadece com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. Daí conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade.
Hannah concluiu que ele dizia a verdade: não se tratava de um malvado ou de um paranóico, mas de um homem comum, incapaz de pensar por si próprio, como a maior parte das pessoas.


Hanna Arendt nos traz uma das melhores interpretações sobre o elo entre liberdade e amor. Sua narrativa é boa à medida que toma como ponto de partida a novidade moral – com uma enorme conseqüência para a política secular – introduzida pelo cristianismo, ou seja, o perdão. Arendt não titubeia em lembrar que foi Jesus Cristo o inventor do perdão.Diz Arendt que foram os romanos, e não os gregos, que lançaram a idéia de comutar penas, em especial a pena de morte. A idéia de governar povos conquistados, a partir de províncias, obrigou os romanos a introduzir formas de amenização de penas. Todavia, foi só com o Evangelho de Jesus que surgiu a idéia do perdão. Arendt lembra que Jesus radicalizou a noção de perdão, e que os autores do Novo Testamento o colocaram como quem ensinou que o homem não imita Deus quanto ao perdão e, sim, que é o homem o autor do perdão, liberando então Deus para, então, também perdoar – ao menos nas faltas cotidianas, que não implicam a morte e os grandes males (estas poderão ser perdoadas por Deus, no Juízo Final). “Pai, perdoai as nossas faltas assim como eu tenho perdoado (as faltas do outro, meu semelhante)”. Essa frase, que está na oração transmitida por Jesus, o chamado “Pai Nosso”, associado a várias outras passagens bíblicas, dão a Arendt o que ela precisa para mostrar que o perdão é um ato humano. Não podia deixar de ser. Pois é por aí que se imiscui a liberdade.

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