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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Somos todas Joanas d'arcs

"Descendente de camponeses, gente modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva. Joana d'Arc foi esquecida pela história até o século XIX, conhecido como o século do nacionalismoAntes aos fatos relacionados, Shakespeare tratou-a como uma bruxa; Voltaire escreveu um poema satírico, ou pseudo-ensaio histórico, que a ridicularizava, intitulado "La Pucelle d´Orléans" ou  "A Puta de Orelleans". Depois da Revolução Francesa, o partido monárquico reavivou a lembrança da boa lorena, que jamais desistiu do retorno do rei.
Joana foi recuperada pelos profetas da "França eterna", Com oromantismo o alemão Schiller fez dela a heroína da sua peça de teatro "Die Jungfrau von Orléans", publicada em 1801. Em 1870, quando a França foi derrotada pela Alemanha - que ocupou Alsácia e a Lorena - "Jeanne, a pequena pastora de Domrémy, um pouco ingênua, tornou-se a heroína do sentimento nacional". Republicanos e nacionalistas exaltaram aquela que deu sua vida pela pátria.Durante a primeira fase da Terceira República, no entanto, o culto a Joana d'Arc esteve associado à direita monarquista, da qual era um dos símbolos, como o rei Henrique IV, sendo mal vista pelos republicanos. A Igreja Católica francesa propôs ao Papa Pio X sua beatificação, realizada em 1909, num período dominado pela exaltação da nação e ao ódio ao estrangeiro, principalmente Inglaterra e Alemanha.O gesto do Papa inspirou-se no desejo de fazer a Igreja de França entrar em mais perfeito acordo com os dirigentes anticlericais da III República, mas só com a Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, Joana deixa de ser uma heroína da Direita. Segundo Irène Kuhn, a partir daí os "postais patrióticos" mostram Jeanne à cabeça dos exércitos e monumentos seus aparecem como cogumelos por toda a França. O Parlamento francês estabelece uma festa nacional em sua honra no 2º domingo de maio.
Em 9 de maio de 1920, cerca de 500 anos depois de sua morte, Joana d'Arc foi definitivamente reabilitada, sendo canonizada pelo Papa Bento XV - era a Santa Joana d'Arc. A canonização traduzia o desejo da Santa Sé de estender pontes para a França republicana, laica e nacionalista. Em 1922 foi declarada padroeira deFrança. Joana d´Arc permanece como testemunha de milagres que pode realizar uma pessoa, ainda que animada apenas pela energia de suas convicções, mesmo adolescente, pastora e analfabeta, de modo que seu exemplo guarda um valor universal."
Esse é um resumo da Vida de Joana d'Arc. O que há de errado com essa história? O que faz com que uma imagem até então ridicularizada se torne simbolo nacional? Entendamos um pouco melhor sua história e os interesses por trás disso. Antes de começar queria já avisar que de fato Joana não foi libertária, lutou e morreu por seu pais. Mas não deixa de ser um grande mulher, que desafiou os padrões sexistas da época chegando por isso inclusive a perder sua vida. Seu pai era agricultor e sua mãe lhe ensinou todos os afazeres de uma menina da época, como fiar e costurar. Joana também era muito religiosa ia muito a igreja e frequentemente fugia do campo para ir orar na igreja de sua cidade. Joana afirmou que desde os treze anos ouvia vozes divinas. Dizia que às vezes não a entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por semana. Entre as mensagens que ela entendeu estavam conselhos para frequentar a igreja, que deveria ir a Paris e que deveria levantar o domínio que havia na cidade de Orléans. Durante a guerra da França aos 16 anos, Joana foi a Vaucouleurs, cidade vizinha a Domrèmy. Recorreu a Robert de Baudricourt, capitão da guarnição armagnac estabelecida em Vaucouleurs para lhe ceder uma escolta até Chinon, onde estava o delfim, já que teria que atravessar todo o território hostil defendido pelos aliados ingleses e borguinhões. Quase um ano depois, Baudricourt aceitou enviá-la escoltada até o delfim. A escolta iniciou-se aproximadamente em 13 de fevereiro de 1429. Entre os seis homens que a acompanharam estavam Poulengy e Jean Nouillompont (conhecido como Jean de Metz). Jean esteve presente em todas as batalhas posteriores de Joana d'Arc.

Portando roupas masculinas até sua morte, Joana atravessou as terras dominadas por Borguinhões, chegando a Chinon, onde finalmente iria se encontrar com Carlos, após uma apresentação de uma carta enviada por Baudricourt. Chegando a Chinon, Joana já dispunha de uma grande popularidade, porém o delfim tinha ainda desconfianças sobre a moça. Decidiram passá-la por algumas provas. Segundo a lenda, com medo de apresentar o delfim diante de uma desconhecida que talvez pudesse matá-lo, eles decidiram ocultar Carlos em uma sala cheia de nobres ao recebê-la. Joana então teria reconhecido o rei disfarçado entre os nobres sem que jamais o tivesse visto antes. Joana teria ido até ao verdadeiro rei, se curvado e dito: "Senhor, vim conduzir os seus exércitos à vitória". Sozinha na presença do rei, ela o convenceu a lhe entregar um exército com o intuito de libertar Orléans. Porém, o rei ainda a fez passar por provas diante dos teólogos reais. As autoridades eclesiásticas em Poitiers submeteram-na a um interrogatório, averiguaram sua virgindade e suas intenções.

Convencido do discurso de Joana, o rei entrega-lhe às mãos uma espada, um estandarte e o comando das tropas francesas, para seguir rumo à libertação da cidade de Orléans, que havia sido invadida e tomada pelos ingleses havia oito meses. Munida de uma bandeira branca, Joana chega a Orléans em 29 de abril de 1429. Comandando um exército de 4000 homens ela consegue a vitória sobre os invasores no dia 9 de maio de 1429. O episódio é conhecido como a Libertação de Orléans. Ela teria chegado para a batalha em um cavalo branco, armadura de aço, e segurando um estandarte com a cruz de Cristo, circunscrita com o nome de Jesus e sem saber nada sobre arte de guerra comandou os soldados rudes. Ela apresentava-se extremamente disciplinada.
Teoricamente Joana já não tinha nada mais que fazer no exército já que havia cumprido sua promessa perfeitamente, havia cumprido corretamente as ordens que as vozes lhe haviam dado. Mas ela, como muitos outros, viu que enquanto a cidade de Paris estivesse tomada pelas tropas inglesas, dificilmente o novo rei poderia ter claramente o controle do reino de França. Na primavera de 1430, Joana d'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de Compiègne porem foi presa em 23 de Maio do mesmo ano. Entre os dias 23 e 27 foi conduzida à Beaulieu-lès-Fontaines. Joana foi entrevistada entre os dias 27 e 28 pelo próprio Duque de Borgonha, Felipe, o Belo. Naquele momento Joana foi tratada como propriedade do Duque de Luxemburgo. Joana foi levada ao Castelo de Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão.Joana foi presa em uma cela escura e vigiada por cinco homens. Em contraste ao bom tratamento que recebera em sua primeira prisão, Joana agora vivia seus piores tempos. Dez sessões foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a apresentação de provas, que resultaram na acusação de heresia e assassinato.

No dia 21 de fevereiro Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela se negou a fazer o juramento da verdade, mas logo o fez. Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre seus trajes masculinos. No dia 27 e 28 de março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, e que depois foram resumidos a 12, mais precisamente no dia 5 de abril. Estes artigos sustentavam a acusação formal para a Donzela buscando sua condenação. A partir do dia 23 de maio, as coisas se aceleraram, e no dia 29 de maio ela foi condenada por heresia. Joana foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos. A cerimónia de execução aconteceu na Praça do Velho Mercado (Place du Vieux Marché), às 9 horas, em Ruão. Após lerem o seu veredito, Joana foi queimada viva.

O claro fato do interesse da direita nacionalista católica em usar sua imagem fez com que a Igreja se retrata-se e a canonizasse. Tudo isso não para de pura hipocrisia, jogo de interesses. De fato essa figura seria até hoje vista com desdem pelos mesmo se o clero não tivesse interesse no uso dela. Direita religiosa hipócrita, a imagem de Joana d'Arc não simboliza nada da sua luta se não sua traição. Que permaneça para sempre eternizada não como defensora do império mas como a mulher que desafiou o patriarcado se tornando guerreira e se vestindo como homem e aguentando ser considerada herege e queimando na fogueira por isso. Sua morte mostra como é retrogrado e atrasado o pre-conceito que a própria direita tem em relação as vestimentas que as mulheres devem ter. Joana d'Arc usava roupas masculinas isto motivou debates em sua própria época e levantou outras questões também no século XX. A razão técnica para a sua execução foi uma lei sobre roupas. O segundo julgamento reverteu a condenação em parte porque o processo de condenação não tinha considerado as exceções doutrinárias referentes a esse texto.

O clérigo que testemunhou em seu segundo julgamento afirmou que ela continuava a vestir roupas do sexo masculino na prisão para deter molestamentos e estupro, suas roupas teriam atrasado um assaltante, e os homens estariam menos propensos a pensar nela como um objeto sexual em qualquer caso. A atualidade da discussão sobre vestimenta mostra com horro como mesmo com esses exemplos históricos os pré-conceitos e machismos continuam a se perpetuar para o nosso horro e de outras Joanas d'Arcs
SOMOS TODAS JOANAS D'ARCS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Hanna Arendt, Liberdade e perdão

“O amor à sabedoria e o amor à bondade, que se resolvem nas atividades de filosofar e de praticar boas ações, têm em comum o fato de que cessam imeditamente – cancelam-se, por assim dizer – sempre que se presume que o homem pode ser sábio ou ser bom.”

Hannah Arendt, nasceu em 14 de outubro de 1906 foi uma ativista política alemã e judia, uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e perseguição na Alemanha de pessoas de origem judaica a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na emigrar. O regime nazista retirou a nacionalidade dela em 1937, o que lhe tornou apátrida. Jornalista e professora universitária publicou obras importantes sobre política. Arendt defendia um conceito de "pluralismo" no âmbito político. Graças ao pluralismo, o potencial de uma liberdade e igualdade política seria gerado entre as pessoas. Em acordos políticos, convênios e leis, devem trabalhar em níveis práticos pessoas adequadas e dispostas. Como frutos desses pensamentos, Arendt se situava de forma crítica ante a democracia representativa. Graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo, seus trabalhos sobre filosofia existencialista e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos.
Nos círculos intelectuais de Königsberg nos quais se criou, a educação das meninas era algo que certamente ocorria. Através de seus avós, conheceu o judaísmo reformado porem sempre professou sua fé em Deus de forma livre e não-convencional. Não pertencia a nenhuma comunidade religiosa, mas sempre se considerou judia, inclusive participando do movimento sionista.
Aos 17 anos teve de abandonar a escola por problemas disciplinares, indo então sozinha a Berlim, onde, sem haver concluído sua formação, teve aulas de teologia cristã e estudou pela primeira vez a obra de Søren Kierkegaard. De volta a Königsberg em 1924, foi aprovada no exame de maturidade.
Em 1933 (ano da tomada do poder de Hitler) Arendt foi proibida de escrever uma segunda dissertação que lhe daria o acesso ao ensino nas universidades alemãs por causa da sua condição de judia. O seu crescente envolvimento com o sionismo levá-la-ia a colidir com o anti-semitismo do Terceiro Reich - o que a conduziria, seguramente, à prisão. Conseguiu escapar da Alemanha e passou por Praga e Genebra antes de se mudar para Paris, onde trabalhou pelos 6 anos seguintes com crianças judias expatriadas. Foi presa (uma segunda vez) na França conjuntamente com o marido, e acabaria em 1941 por partir para os Estados Unidos, com a ajuda do jornalista americano Varian Fry.
O trabalho de Hannah Arendt abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência, e a condição de mulher.


O primeiro livro "As origens do totalitarismo" (1951) consolida o seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polémica o nazismo e o comunismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas.
Sete anos depois publica "A condição humana", obra onde enfatiza a importância da política como ação e como processo, dirigida à conquista da liberdade:
Com a expressão 'vita activa', pretendo designar três actividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. (...) O labor é a actividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...). A condição humana do labor é a própria vida. O trabalho é a actividade correspondente ao artificialismo da existência humana (...). O trabalho produz um mundo "artificial" de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. A condição humana do trabalho é a mundanidade. A acção, única actividade que se exerce directamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao facto de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente 'a' condição (...) de toda a vida política. 
Publica depois "Sobre a Revolução" (1963), talvez o seu maior tributo para o pensamento libertário contemporâneo, e examina a revolução francesa e a revolução americana, mostrando o que têm de comum e de diferente.
Ainda, em 1963, escreveria "Eichmann em Jerusalém" a partir da cobertura jornalística que faria do julgamento do exterminador dos judeus e arquitecto da Solução Final para a The New Yorker. Nesse livro impressionante revela que o grande exterminador dos judeus não era um demônio e um poço de maldade (como o criam os activistas judeus) mas alguëm terrível e horrivelmente normal. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição. Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica virulenta das organizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio. Arendt apontara, apenas, para a complexidade da natureza humana, para uma certa "Banalidade do Mal" que surge quando se compadece com o sofrimento, a tortura e a própria prática do mal. Daí conclui que é fundamental manter uma permanente vigilância para garantir a defesa e preservação da liberdade.
Hannah concluiu que ele dizia a verdade: não se tratava de um malvado ou de um paranóico, mas de um homem comum, incapaz de pensar por si próprio, como a maior parte das pessoas.


Hanna Arendt nos traz uma das melhores interpretações sobre o elo entre liberdade e amor. Sua narrativa é boa à medida que toma como ponto de partida a novidade moral – com uma enorme conseqüência para a política secular – introduzida pelo cristianismo, ou seja, o perdão. Arendt não titubeia em lembrar que foi Jesus Cristo o inventor do perdão.Diz Arendt que foram os romanos, e não os gregos, que lançaram a idéia de comutar penas, em especial a pena de morte. A idéia de governar povos conquistados, a partir de províncias, obrigou os romanos a introduzir formas de amenização de penas. Todavia, foi só com o Evangelho de Jesus que surgiu a idéia do perdão. Arendt lembra que Jesus radicalizou a noção de perdão, e que os autores do Novo Testamento o colocaram como quem ensinou que o homem não imita Deus quanto ao perdão e, sim, que é o homem o autor do perdão, liberando então Deus para, então, também perdoar – ao menos nas faltas cotidianas, que não implicam a morte e os grandes males (estas poderão ser perdoadas por Deus, no Juízo Final). “Pai, perdoai as nossas faltas assim como eu tenho perdoado (as faltas do outro, meu semelhante)”. Essa frase, que está na oração transmitida por Jesus, o chamado “Pai Nosso”, associado a várias outras passagens bíblicas, dão a Arendt o que ela precisa para mostrar que o perdão é um ato humano. Não podia deixar de ser. Pois é por aí que se imiscui a liberdade.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Simone Weil, a graça sem rotulos


"Todos os movimentos naturais da alma são controlados por leis análogas às da gravidade e da física. A graça é a única exceção." Simone Weil


Simone Weil (1909-1943) foi uma mulher insuportável, idealista, ativista, engajada, asceta, iluminada e francesa. Para escândalo dos pais, recusou-se aos cinco anos a comer açúcar, porque ouviu que os soldados no front estavam privados dele. Pela mesma razão abandonou a carreira confortável de professora e foi trabalhar durante a Depressão entre gente operária numa fábrica da Renault, recusando-se a comer mais do que a ração dos proletários e participando ativamente de todos os piquetes e greves com que acenavam as lutas anti-estatistas. Problemas de saúde obrigaram-na a deixar a fábrica, mas ele aproveitou a deixa para juntar-se à causa dos radicais republicanos na sangrenta Guerra Civil da Espanha, Mesmo sendo míope e frágil, recebeu um rifle e foi incorporada a uma unidade de anarquistas jurando ao mesmo tempo jamais usar a arma que lhe colocariam nas mãos e na Resistência Francesa, em Londres; por ser bastante conhecida, foi impedida de retornar à França como pretendia; acometida de tuberculose, não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar. Ela notou a subordinação, seja da social democracia à burguesia gestora do Estado capitalista, seja da Internacional comunista ou Komintern, à burocracia gestora do Estado soviético.Publicou um artigo considerado herético pelos marxistas ortodoxos "Vamos nós para a revolução proletária?", no qual enfatizava: a opressão do proletariado era causada pelas técnicas da produção industrial, presentes tanto no capitalismo quanto no socialismo burocrático vigente na Rússia. Aos materialistas históricos faltara a capacidade de enxergar o real com a lucidez que lhes permitisse tanto compreender a realidade histórica das primeiras décadas do século XX, quanto formular a crítica à infundada expectativa de uma efetiva ou iminente revolução proletária. A epígrafe desse artigo, que teve o mérito de antever a falência do socialismo real, eram os versos do Ajax de Sófocles: "não tenho senão desprezo pelos mortais que se nutrem de esperanças vãs". Talvez, como ela observou posteriormente: "não é a religião, mas a revolução que é o ópio do povo"A sua própria experiência de operária metalúrgica, iniciada alguns meses mais tarde, levou-a a mais e melhor compreender: em nenhum país onde prevaleciam as técnicas produtivas implantadas a partir do modo de produção capitalista (incluindo os que estavam sob o domínio do nazismo, do fascismo e do stalinismo), o planejamento da produção estava prestes a cair sob o controle operário; assim, os mais generosos ou corajosos militantes revolucionários, na mais trágica hipótese, seriam mártires em busca de sua própria morte. Desanimada com as atrocidades que havia visto seu próprio lado cometer, Simone reafirmou seu pacifismo. Ela escreveu "embora vivamos entre realidades mutáveis, diversas e determinadas pelo jogo volúvel de necessidades externas, agimos, lutamos, sacrificamos a nós e a outros em nome de abstrações cristalizadas, isoladas" (como nação, capitalismo, comunismo e fascismo).

Simone Weil entregou-se quase que casualmente ao cristianismo, através de uma antiquada experiência mística – no momento em que, atormentada por uma implacável enxaqueca e recitando um poema de George Herbert, ouvia um canto gregoriano na Abadia de Solesmes.
Weil havia experimentado a “união mística”, e jamais abandonaria depois disso o abraço da Graça. Porém, , recusou até o fim todas as facilidades e respostas fáceis providas pelo cristianismo institucional. Simone Weil, que amava contradições e paradoxos e os mitos de todas as culturas, permaneceria até o fim uma "secular" (como chamam os crentes).
Mais até mesmo do que o Antifascista Dietrich Bonhoeffer, Weil parece ter compreendido o tremendo distanciamento e alienação que uma era pós-religiosa exigiria de um louco que ousasse neste mundo louco perseguir a loucura de seguir a Graça. Um verdadeiro libertário mesmo que "cristão" , propuseram Weil e Bonhoeffer em vidas e vocabulários distintos, teria abrir mão do conforto de todos os rótulos, até mesmo do que lhe seria mais caro, o do próprio cristianismo.
Em seu prefácio a Waiting for God, Leslie A. Fiedler explica assim essa terrível posição:
Associar-se ao contexto de uma religião particular, sentia ela, teria por um lado exposto Weil ao que ela chamava de “patriotismo eclesiástico”, com a conseqüente cegueira para as falhas do seu próprio grupo e as virtudes dos outros; por outro, teria separado Weil da condição dos seres comuns aqui embaixo, que permanecemos todos “alienados, sem raízes, em exílio”. O mais terrível dos crimes é colaborar com o desenraizamento de outras pessoas num mundo já por si mesmo alienado; porém a maior das virtudes é desenraizar-se por amor ao próximo e a Deus. “É necessário desenraizar-se,” escreve Weil. “Corte a árvore, faça dela uma cruz e carregue-a para sempre”.
Nietzsche dizia que os cristãos de hoje, depois de dois mil anos de conforto, haviam se tornado incapazes de apreender o tremendo paradoxo que tinha sido, nos primeiros séculos da nossa era, conceber algo como “Deus na cruz” (talvez tenha sido por compaixão a essa gente que Nietzsche recriou o paradoxo com o seu conhecido “Deus morreu” – e ele acrescenta, desnecessariamente, com uma devoção de beata: “nós o matamos”).
Ler Simone Weil é deparar-se com os paradoxos do cristianismo em linguagem horrivelmente lúcida, sem maneirismos e sem disfarces. Nietzsche fingia crer que a moral cristã é impensável; Weil corrige essa generosidade, e esclarece que tudo no cristianismo é rigorosamente impensável e terrível e vertiginoso e paradoxal.
“PRECISÁVAMOS DA ENCARNAÇÃO PARA IMPEDIR QUE ESSA SUPERIORIDADE SE TORNASSE UM ESCÂNDALO”.
Um único exemplo deverá por enquanto bastar para emblemar o que quero dizer. Weil anota: “O sofrimento é superioridade do homem em relação Deus. Precisávamos da Encarnação para impedir que essa superioridade se tornasse um escândalo”.
O sofrimento é superioridade do homem em relação a Deus.
Weil cria (com os místicos medievais judeus, que talvez nunca tenha lido) que para dar espaço para o universo que tencionava criar Deus se recolhera, se diminuíra, retirara-se do universo para que o universo pudesse existir. As implicações dessa iniciativa eram, como em tudo que Deus coloca a mão, terríveis e impensáveis. Os paradoxos! Se Deus se recolheu, a soma de Deus mais o universo mais todas as suas criaturas é ainda menor do que Deus. Se o sofrimento é superioridade do homem em relação a Deus, somos deuses a quem Deus concedeu (paradoxalmente) um privilégio que ele mesmo nunca conheceu – ou não conhecera em plenitude – antes de Jesus. Semelhantemente, ele nos convida a que sejamos pequenos deuses que o imitem naquilo que ele, Deus, recusou-se a fazer: apegar-se à superioridade da sua condição.
Mais do que isso: apenas a renúncia, o altruísmo, a abstenção, são neste mundo atos verdadeiramente criativos – em que espelham o retraimento, o desenraizamento criativo de Deus. Nossa obsessão com a auto-afirmação, justamente ao contrário do que parecia sugerir Nietzsche, é que é essencialmente redundante e niilista.
Simone Weil, que teve poucos amigos, anotou certa vez no seu diário: “nunca busque a amizade… nunca se permita sequer sonhar com a amizade… a amizade é um milagre!” De fato é um  milagre. uma graça porque é algo imerecido, ninguém a merece e é completamente contra qualquer instinto de auto-preservação, mas contra toda a logica ela existe e nós ajuda vivermos bem.
Weil concluiu que duas grandes forças forças governavam o Universo: a gravidade e a graça. A gravidade leva um corpo a atrair outros corpos, de modo que aumenta continuamente, absorvendo mais e mais do Universo em si mesmo. Alguma coisa igual a essa mesma força opera nos seres humanos. Nós também queremos nos expandir, adquirir, inchar significativamente.  O desejo de "sermos como deuses", afinal, levou a humanidade a matar-se uns aos outros. Emocionalmente, Weil conclui: nós, humanos, operamos por meio de leis tão fixas quanto a lei de Newton. "Todos os movimentos naturais são controlados por leis análogas às da gravidade física. A graça é a unica exceção." Muitos de nós continuamos presos pelo campo gravitacional do amor-próprio e, assim, "tapamos as fissuras pelas quais a graça poderia passar".

Mais ou menos na época em que Weil estava escrevendo, outro refugiado dos nazistas, Karl Barth, fez o comentário  de que o dom do perdão, da graça, era para ele o mais surpreendente dos seus milagres. Os milagres quebraram as leis das físicas do Universo; o perdão rompeu as regras morais nos mostrando que somos livres. "O inicio do bem é percebido no meio do mal.... A simplicidade e a abrangência  da graça - quem as medirá?" Aquele que foi tocado pela graça não vai mais olhar para quem  se desviou como "aquela gente ruim" ou "aquela pobre gente que precisa de nossa ajuda". Nem devemos procurar sinais de "merecimento de amor". Categorias de merecimento não valem nada. Em sua autobiografia, o filósofo alemão Friedrich Nietsche falou  de sua capacidade de "sentir o cheiro" das partes mais ocultas de cada alma, especialmente a "abundante sujeira escondida no fundo do caráter".  Nietzsche foi um mestre da ausência da graça. Nós somos chamados para fazer o oposto, para sentir o cheiro dos resíduos do valor oculto.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

En la selva, en la montaña! ¡Ramona nos acompaña!

 comandanta Ramona (1959 -2006)


"Irmãos e irmãs mexicanas, Eu sou a Ramona Comandante do Exército Zapatista de Libertação Nacional. Eu sou o primeiro de muitos passos dos zapatistas à Cidade do México e todas as  outras  partes do México.Esperamos que você ande com a gente. Esta é a nossa palavra, irmãos e irmãs no México. "


Uma mulher  pequena em estatura, doce e discreta, sempre bem humorada, bordadeira (de oficio), semi analfabeta, indígena e debilitada devido sua doenças nos rins 
Heis que tornou-se  comandante Ramona, nessa nova indentidade C.Ramona dirigiu a incursão em   San Cristobal de las casas simbolo da arrogância do poder em 1° de janeiro de 1994. Na comunidade de la realidade xingando aos enviados do governo salinista a ponto de ser presa. Ela fundadora do exercito rebelde  impulsionadora  dos direitos das mulheres e fundadora da lei Revolucinaria de Mulheres que então divulgaram os insurgentes dando origem  aquilo que conhecemos com EZLN .

"Em sua justa luta pela libertação do nosso povo, o EZLN incorpora as mulheres na luta revolucionária não importa sua raça, credo, cor ou filiação política, com a única exigência para apoiar as demandas dos povos explorados e seu compromisso de cumprir e fazer cumprir as leis e regulamentos da revolução ... "

Em  12 de outubro 1996 a primeira a sair da zona zapatista para a cidade do Mexico participar da construção do congresso Nacional indigena (CNI),O governo de Ernesto Zedillo a tinha com um ser humano perigoso. C.Ramona  falou pra uma plateia de 100.000 pessoas em zocalo Cidade do Mexico. Em seu discurso  falou sobre a dignidade indigena do nosso tempo e sobre o inicio da luta zapatista .

"Viemos aqui para gritar junto com todos, e não, nunca mais um México sem nós."
Saiu de lá escoltada pelo pelo subcomandante Marcos diante do assedio da imprensa, dos deputados e senadores  da Cocopa  que estavam ali como escudos humanos para que o Exercito não invadisse a comunidade tojolabal em umas das crises mais graves .
Nesse dia  em La Realidad havia vario intelectuais e a assembléia nacional de El Barzon. Estavam decepcionados já que  não mandaram a cidade do mexico em sua capital o famoso Sub comandante Marcos e sim uma mulher que para eles era insignificante. Mas a grande surpresa e um enorme cala a boca  pra esses machistas de plantão  o povo aclamava e gritava o nome de Ramona,  em sua humildade e surpresa  com sua voz suave e seus olhos negros dizia em lingua Maya "não sei porque me querem ?!"

Após um ano do acordo de San Andrés ,Ramona concedeu uma entrevista ao Jornal La jornada da Cidade do Mexico quando se recuperava de um Transplante dos Rins. Em fevereiro de 1997 disse:
''Nós zapatistas queremos um México que se mude, se mude o México, e um dia México estará livre"

                                                        E advertiu:
"Se não se cumprirem os acordos, a gente indígena vai seguir se juntando". 


Por doze anos ápos a Revolta, lutou contra a morte,  uma morte que não veio do combate armado, mas pela a luta contra a pobreza,Ramona faleceu  em uma Sexta feira  de janeiro  de 2006, de insuficiência renal  a caminho do hospital de san critobal, porque nas chiapas muitas vezes doenças curáveis são sinal de morte, um entre varios direitos que são negados aos indigenas pelo neo-colonialismo mexicano, mais ainda assim essa mulher que parecia frágil a primeira vista mostrava força e resistência ate mesmo  na hora de encontrar a morte  sempre com seu bom humor, no dia 16 de setembro de 2005  a ultima vez que foi vista  disse algumas palavras para os adptos  da sexta declaração da Selva Lancadona :

"Boa noite colegas,companheiros, é o meu nome Comandante Ramona, eu estou feliz que muitas pessoas vieram aqui, enviamos saudações por muitos para que você realmente quer trabalhar e trabalhar juntos, minha palavra é tudo, obrigado ... "



TOD@S SOMOS RAMONAS!

''O mundo perdeu uma dessas mulheres que dão a luz a novos mundos. México perdeu uma dessas lutadoras que lhe farão falta. E a nós arrancaram um pedaço do coração", disse esta tarde o subcomandante Marcos no auditório da Frente Cívica Tonalteco, aonde se estava realizando um encontro da outra campanha, ao comunicar o falecimento da comandanta Ramona. 



O grupo musical chicano Quetzal se fez célebre com a canção Todos somos Ramona. Se de verdade se puder dizer que todos somos Ramona, este mundo seria um lugar muito melhor




      Hasta siempre Comandanta Ramona


Part 1
           
 
                                 
                                                                    Part 2                                                


Part 3



Part 4

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O estético, a servidão e o moralismo

O existencialismo de Kierkgaard se pauta na critica de três formas de servidão voluntárias e as coerções consequentes desses aprisionamentos também. são elas o estético, o social e o religioso. Tendo ele até o final da vida se liberto das 3 em certa medida e depois descobrindo que mesmo após acreditar se libertar das 3 enquanto vivemos em sociedade as 3 continuam constantemente a te arrastar de volta para elas. Duas delas se manifestam através do moralismo, são elas o social e o religioso, na maioria das vezes também estão carregados de um legalismo ferrenho embora não necessariamente (é possível ser moralista e não ser legalista).
Porém não vou tratar delas e sim da terceira, o estético. O estético se constitui em muitas vezes forma de se entregar a todos os seus desejos e muitas vezes se tornando escravos deles. Por exemplo qual seria o problema em beber? Nenhum, mas a partir do momento que beber é a unica forma que você tem de ser alguém ou interagir socialmente, você se tornou servo da bebida. Porem e algo tão sutil que você voluntariamente opta por esse caminho. Isso pode se aplicar a outras drogas, se a unica forma que você tem de enfrentar a vida é através delas, você está servo das drogas. O complicado é que como você pode combater essa forma de escravidão sem cair no moralismo. Como moralismo? Ora se livrar criando um simples código moral. O problema no meu exemplo não está no álcool, e sim a forma alienante como se usa ele, a forma escapista ou até no modo de incorporar ele a sua personalidade como uma coisa essencial. O cigarro por exemplo em nossa cultura é usado como forma de relaxar e amenizar os problemas, ora é obvio que nessa forma de usar o cigarro ele se torna um muito mais facilmente um vicio, toda vez que ressurgirem os problemas você vai basculo. Porem o uso moderado tanto do álcool quanto do tabaco é possível. Na cultura europeia por exemplo charutos são culturais, cachimbos, existem pessoas que fumam socialmente, posso citar um exemplo famoso até muito criticado pelos moralistas religioso, o escritor cristão CS. Lewis. embora nada em sua obra aponte pra nenhuma forma de libertinagem, ele foi constantemente acusado de herege  libertino pelos crentes puritanos simplesmente por beber e fumar socialmente. A questão é como encontrar o equilíbrio ou a moderação? Simples, se você não consegue parar de beber ou fumar  por qualquer motivo que seja, já e um vicio logo você já é escravo. Se você busca essa alternativa exclusivamente com objetivo de se embriagar, esquecer os problemas ou como motivador para tomar atitudes que você não tomaria, você já deu o primeiro passo para que isso se torne uma muleta. Existem pessoas que simplesmente não usam mas não tratam a questão de forma moralista, se essas pessoas não se considera superior por isso e nem condena a todos que usem impondo sua escolha individual, ótimo. Do contrario falta entendimento de que nem sempre a droga em si é necessariamente uma muleta. Infelizmente não digo isso de todas, existem drogas mais pesadas que não recomendo a ninguém, droga que te escravizam quimicamente com pouco tempo de uso. Essas eu me oponho ferrenhamente, mas também entenda se opor não é impor. Se você tem um amigo que reproduz toda a logica do sistema de amor ao trabalho e etc e é escravo disso você apontando o dedo na cara da pessoa de modo algum vai ajuda-lo. Agora conversar e dizer como tudo isso te escraviza, sim ajuda, ou como a pessoa está escrava disso, uma vez que nem todos que trabalham absorveram todo esse conceito trabalhista impregnado no moralismo social atual. A via legalista já de proibir o uso de qualquer droga é muito pior pois trata-se de responder uma forma de possível servidão voluntária com um autoritarismo aberto. A droga foi um exemplo, existem muitas outras formas de servidão através do aspecto estético, muitos vícios. Toda a questão que poderia  simplificar seria até quando um habito não é escapismo e você não depende dele pra viver? Se você não puder evitar que tais hábitos  te tornem seu servos não se aproxime, usemos nossa liberdade para nos mantermos livres.
Um drink em homenagem a  liberdade.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Leila khaled e o voo da TWA 840.

   Era o voo TWA 840 ,até que uma elegante mulher vestida de branco ,segurando uma granada já sem o pino,tomou o rádio e disse : "não,este não é mais o voo 840.senhoras e senhores ,sua atenção por favor !O comando Che guevara (FPLP) unidade da frente popular pela libertação Palestina ,acaba de assumir o voo da TWA.Enquanto estavam voando sobre Israel ,os caças militares acompanhavam o avião comercial sequestrado.Até o avião seguir para Damasco e pousar em uma pista ,já construida de ante mão pelo movimento de resistência palestino.Depois do pouso ,a mulher de branco avisa aos passageiros :"Saiam todos.há uma bomba neste avião! e a aeronave explodiu e não houve nenhum ferido.A FPLP queria que a aeronave pousa-se em algum território Arábe amigo para julgar o embaixador israelense nos Estados Unidos ,Itzhack Rabin,ex-chefe do Estado -maior do exército Israelita ,que participou da Guerra de 1967.Rabin,desistiu de embarcar na ultima hora .
   Apesar do plano não ter dado certo uma coisa importante estava acontecendo as mídias internacionais estavam voltadas para a Palestina ,e as pessoas estavam vendo o que de fato estava acontecendo; o terrorismo de Estado ,que vem de Israel e está instalado na Palestina.
  Leila Khaled começou cedo na luta política pela libertação da Palestina ,ela treinou mulheres e crianças em campos de refugiados .Até hoje ela é membro ,da FPLP, ela continua seu trabalho na Palestina , o movimento de resistência são dirigidos à juventude e as mulheres .Leila acredita que a tecnologia e a comunicação são ferramentas importantes e os jovens usam de modo eficaz na revolução !